PUBLICO-21,FEV.2005
OML: Orquestra Municipal de Lisboa
Segunda-feira, 21 de Fevereiro de 2005
A Orquestra Metropolitana trouxe finalmente algumas boas notícias a uma conferência de imprensa. Por via de uma complicada engenharia financeira, o futuro imediato está assegurado e o desastre Graça Moura só persiste numa dívida - elevadíssima - em vias de saneamento. As notícias levantam, contudo, algumas questões:
1. Até quando se vai persistir na ficção dos apoios privados a organismos que são exclusivamente custeados por dinheiros públicos? A César o que é de César - se a orquestra é paga pelo Estado, então que se assumam os compromissos, que passam pela garantia de estabilidade por parte do financiador, e as responsabilidades, que se cumprem na exemplar persecução dos objectivos e no estrito e transparente cumprimento das normas de gestão da coisa pública, que obrigam nomeadamente à regularização dos quadros da orquestra (referida de passagem no PÚBLICO e omitida no "DN"), que é a questão que deve ser seguida com a maior atenção.
2. A César também os louros do sucesso. Não se compreende como é que um organismo exclusivamente suportado pelo Estado continua sistematicamente a fazer passar a mensagem das virtudes da iniciativa privada e, reflexivamente, como é que o Estado abdica do prestígio e relevância da acção social que a manutenção do projecto lhe deveria trazer. Nesta perspectiva, objectivamente, a orquestra deveria chamar-se Orquestra Municipal de Lisboa (com largos méritos para a incansável Maria Manuel Pinto Barbosa) ou, pelo menos, Orquestra da Área Metropolitana de Lisboa, sigla que corresponde à sua vocação inicial de financiamento local.
3. Os projectos da direcção apontam para o crescimento da dimensão sinfónica e para a ambição da projecção internacional. Será razoável, nos tempos que correm, uma instituição que esteve à beira do naufrágio e que enfrenta o endividamento para se manter à tona estabelecer estes objectivos? Projecção internacional? Dá vontade de rir. A única projecção que uma orquestra deve ambicionar é a que resultar da sua relevância artística - o resto são "tournées" a Badajoz.
4. Como sempre, não se falou de música e projectos artísticos e, neste campo, a vinda de Álvaro Cassuto levanta as maiores reticências. Falou-se sim, e disso bem ao seu estilo, da "assinatura de um protocolo de três anos com o Grupo João Lagos, que cuidará das actividades de promoção, comunicação e imagem da actividade da OML"... O Grupo João Lagos fará por conseguir apoios privados que aliviem o "fardo" dos fundadores e das câmaras - segundo João Sacchetti, representante da empresa, está para breve o anúncio de algumas novidades". Protocolo, empresa, grupo, imagem, promoção, comunicação, Sacchetti, apoios privados? Isto soa familiar e cheira a esturro; são termos normalmente utilizados para efectivamente "aliviar" os financiamentos públicos. Estará alguém atento
