Forum Português de Música

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Oscar Candendo em São Vicente de Fora

Ontem Oscar Candendo Zabala apresentou-se em São Vicente de Fora, por ocasião do Festival de Órgão, com um programa subordinado ao tema "O Órgão Ibérico Através dos Séculos".

O concerto foi razoável, registações demasiado monótonas para o meu gosto e peças tocadas sem grande interesse, sem energia, com uma ornamentação desinteressante e pouco imaginativa e, sobretudo, sem uma visão estruturada das obras, em termos de fraseado e de clímax, de que não houve sequer o menor indício, mas tudo isso é pessoal.

O problema maior, que eu considerei também uma enormíssima falta de educação, foi não ter tocado uma única peça de música portuguesa. Nem uma! Ora, como se sabe, a Península Ibérica tem dois países, e do NOSSO lado foi feita, durante os séculos XVI a XVIII, música da mesma qualidade, e frequentemente melhor, do que do lado "deles". E mesmo que não fosse assim, vir a Portugal dar um concerto num dos nossos órgãos históricos mais importantes, a convite do NOSSO Festival de Órgão e tocar só música espanhola é, no mínimo, uma atitude grosseira, indelicada e desagradável. Mas, como para um espanhol, qualquer coisa espanhola é preferível a uma coisa estrangeira, mesmo que de qualidade bastante superior, em vez de acabar o concerto com um dos nossos compositores do Século XVII, preferiu tocar música espanhola contemporânea - e de má qualidade - de um homenzinho qualquer que decidiu escrever um "Libro del Organo Iberico". Algumas pessoas começaram a ir-se embora (não fizeram senão bem). Eu fui. E não ponho mais os pés num concerto dele.

De resto, foi um concerto muito agradável.
José Carlos

Re: Oscar Candendo em São Vicente de Fora

É de bradar aos céus, não tanto por ser música portuguesa, porque só esse argumento não chega, mas porque a nossa música dessa época é realmente notável, e frequentemente da mesma qualidade, ou até melhor, que a restante produção ibérica. Além do mais, com um título desses, subordinado ao órgão ibérico, quer dizer, a Península não é só Espanha. Ainda se fossem muitos países, mas estamos a falar de uma península com apenas duas nações. Não tocar uma única peça portuguesa torna o título do concerto, no mínimo, uma fraude.

No entanto, creio que a culpa será também de quem organiza o festival. Eu tenho muita pena, meus caros, mas já organizei e programei vários eventos musicais, e num caso destes, nunca convidaria o senhor a vir cá tocar se ele não me apresentasse um programa mais equilibrado. É dever do programador exercer uma certa influência sobre um festival. Só assim este será mais que um amontoado de músicos convidados em pacote, que tocam apenas o que querem, sem uma filosofia de conjunto.

Não gostaria, mais uma vez, de generalizar com essa dos espanhóis acharem que só o que é deles é bom. Na minha vida já tive imensos contactos com músicos espanhóis, e muitos tocam música portuguesa. Já tive várias peças tocadas em Espanha a convite deles, em eventos que nada tinham a ver com música ibérica. Alguns serão como o organista citado, outros são, digamos, seres humanos e músicos razoáveis. Pode perfeitamente acontecer que, nessa altura, o organista citado não ter em programa nenhuma obra portuguesa, e o convite ter chegado em cima da hora, sem tempo para preparação, sabe-se lá. Teríamos de saber melhor quais as razões para não tocar nenhuma obra portuguesa. Mas termino este breve post, insistindo que é a direcção artística do festival, de qualquer festival, que deve criar a filosofia global do mesmo, escolhendo intérpretes e temas, mas também programas. Se tal tivesse acontecido, se calhar esse programa teria tido metade de música portuguesa, ou então teria sido escolhido outro músico que tivesse obras portuguesas e espanholas no repertório corrente.

Cumprimentos,

Sérgio Azevedo

P.S. - Sobre a peça contemporânea, não me pronuncio sobre a qualidade, pois não conheço. Sei que existe um conjunto de peças com esse nome, mas não me lembro do autor. Luís de Pablo? Guerrero? No lo sé. Apenas comento que eu não teria saído do concerto até que a última nota não tivesse soado, pelas razões que já expus noutros posts. Para dizer que não gostei, convém ter ouvido a peça, e ouvir o início de uma obra não me chega. Tenho dito.

Re: Re: Oscar Candendo em São Vicente de Fora

Eu não ouvi só o início da obra; Oscar Candendo tocou três peças do "Libro del Organo Iberico", de Adolfo Gutierrez Viejo. Ouvi a primeira e a segunda. Como à terceira já não podia mais conter o riso (provocado pelo que estava a ouvir) e a indignação (provocada já desde o princípio pela leitura do programa), vim-me embora. E não fui só eu...

Re: Re: Re: Oscar Candendo em São Vicente de Fora

Realmente, não conheço o compositor, embora já tenha ouvido falar da obra. Admito que depois de ouvidas duas das três peças, já possa formar um juízo e esse possa ser desfavorável. Uma das coisas que eu nunca disse foi que não havia música contemporânea má. Há-a, claro, e até péssima, embora isso aconteça em todas as épocas da música (pode não ser tão evidente em algumas linguagens, mas garanto-lhe que, mesmo do ponto de vista puramente técnico da escrita, exitem obras tonais que, para mim, não se conseguem ouvir, embora aparentemente soem "bem" pois são à base de acordes perfeitos maiores e menores. Agora, soar bem ou mal não chega para afirmar a boa ou má qualidade de uma obra. É como a pintura abstracta, surrealista, expressionista ou figurativa).

Mas porque eram assim tão más as obras? somente por curiosidade minha. Demasiado dissonantes, sem forma, o intérprete fazia umas macacadas, o que foi que lhe provocou o riso?

Re: Re: Re: Oscar Candendo em São Vicente de Fora

Só por curiosidade, fui investigar o senhor, que não conhecia, e parece que é um organista reputadíssimo, pelo menos em Espanha, onde encontrei os maiores elogios à sua arte interpretativa. Também é compositor, e foi aluno de Guridi. Não é pois um amador sem talento algum. Foi por isso que quis saber o que lhe provocou o riso, até porque, supostamente, e pelo que li dele, nem parece ser um compositor de vanguarda. Toca Bach, é organista (geralmente os organistas não dão os compositores mais extremistas), já tem uma certa idade, enfim, estou curioso de saber porque é que as peças eram assim tão más!






ADOLFO GUTIERREZ VIEJO
Nace en Lugán ( León ) y lleva a cabo sus estudios de piano, órgano, composición y dirección de coros y orquestas en Madrid, Siena, Roma y Munich. Entre sus profesores se encuentran personalidades como Guridi, Gales, Germani, Tossati y Killmaier. Obtuvo el primer premio extraordinario del Real Conservatorio de Madrid, el primer premio del Concurso Internacional de Interpretación Organística de Avila, así como diversos primeros premios de composici´çon y dirección en Alicante, Tenerife, Asturias y Arezzo.

Ha sido organista titular por oposición de las Catedrales de León y de St. Johan von Capisiran de Munich.

Ha ocupado, también mediante oposiciones, los puestos de catedrático de órgano del Conservatorio Superior de Alicante, catedrático de dirección de coros del Conservatorio Superior de Oviedo y de la Escuela Superior de Canto de Madrid.

Ha fundado y dirigido la Capilla Clásica de León, el conjunto de música contemporánea Lucentum y el Festival Internacional de Organo " Catedral de León ". También ha sido Director Titular del Coro Nacional de España.

Desde 1986 trabaja en la composición del “Libro del Órgano Ibérico”. La composición de “Versos del alto Porma” (1999), para el Órgano Echevarría de Santa Marina la Real de León, ha impulsado el nacimiento de “Cuadernos para el Órgano Echevarría de Santa Marina La Real”, un proyecto inserto en las producciones del Festival Internacional de Órgano “Catedral de León”, cuya primera edición contiene los citados “Versos” y otras obras escritas “ad hoc” por Miguel del Barco, Ángel Oliver y Robert Helmschrot.

En la actualidad lleva a cabo la interpretación de la obra integral de J.S. Bach dentro del marco del Festival Internacional de Órgano “Catedral de León”.

Re:Oscar Candendo em São Vicente de Fora

É evidente que há música contemporânea má. E também é evidente que há uma enorme quantidade de música histórica má. O problema não é esse.
O riso não me foi provocado apenas pela música do senhor Gutierrez Viejo, que é sem dúvida um os mais importantes organistas espanhóis (não é isso que está em causa), mas sim pela combinação desta com os timbres característicos do órgão ibérico, neste caso particular os do magnífico instrumento histórico da Igreja de S. Vicente de Fora.
Mais concretamente: a segunda peça, cujo título não me lembro, baseava-se na alternância de secções idênticas, tocadas alternadamente com flautas e flautados e com palhetas interiores (que se localizam dentro da caixa do órgão e não no exterior, em chamada), que me pareceram (posso estar enganado) as duas palhetas do órgão de ecos, ou seja, a Sacabuxa de mão esquerda e o Clarim de Eco de mão direita.
Estes timbres, que todos estamos habituados a ouvir utilizados na música histórica ibérica, aliados à inexpressividade da música e às suas dissonâncias bastante banais davam-me, por qualquer motivo, vontade de rir; enfim, a música era desinteressante. E nunca mais acabava, que é o pior. Ora, não teria sido melhor acabar o concerto com a Batalha de Quinto tom de Frei Diego da Conceição, para dar só um exemplo?

Essa de me inventarem um "Portugas" -"Espanholitos" em ...

órgão tem imensa piada.

Porque o problema não é os espanhóis só tocarem espanhóis.

Se pensarmos bem, isso a longo prazo só irá contra eles , visto enclausurá-los narcisiacamente .

E até é agradável sentir o apoio (desde que justo ...) dos compatriotas .

O problema é a falta de cuidado que os portugueses tem sobre os trabalhos doutros portugueses, não incluirem obras de compositores portugueses nos seus espetáculos (desde que com um minímo qualidade, visto que a produção de génios ser
sempre escassa ....), baterem-se pela sua inclusão, etc.

Quanto ao "carinho" proponho um teste simples.

É usual que conservatórios tenham o nome de algum músico (compositor, executante, etc) lá da terrinha, que se tenha notabilizado minimamente.

Pois bem, telefonem-lhe e perguntem se sabem quem foi o senhor(a), conhecem a sua obra, se a divulgaram, etc...

e digam-me os resultados.


Re: Essa de me inventarem um "Portugas" -"Espanholitos" em ...

Sim, concordo que parte do problema, senã o maior, da música portuguesa começa cá em casa, a culpa não é dos espanhóis. Nós não fazemos muito por ela, não podemos esperar que os outros o façam por nós. Daí o tal exemplo que referi do programador do festival, que deve ser português. Ele é que devia ter visto os programas oferecidos e propor alterações que beneficiassem a equidade da música nacional, além de que, dar aquele título a um concerto que depois, de ibérico, apenas tem espanhóis...