Como lida com Bach aquele melómano ecléctico e superficial, que nem sequer gosta de Música Antiga, mas que reconhece a necessidade de saudar um nome consagrado?
Acomodando-o como for possível.
Por exemplo, Bach serve de antepassado musical prestigioso para grandes compositores posteriores como Mozart, Haydn e Beethoven e até para certos românticos menos bons onde já vi incluir Chopin; sustentam que o Classicismo corrigiu os excessos do Barroco, constituindo uma evolução na história da música: Mozart, o maior de todos os compositores. Bach muito estudado pelos compositores clássicos e românticos...; são falsos devotos os que dizem “Bach, com certeza, mas...” ou “...Bach e o Jazz...” ou que o incluem em esquizofrénicas listas de preferências musicais, “...Chopin, Bach, Stravinski, Prokofiev...”.
Com filiações musicais forjadas e ideias feitas, pretendem simplesmente sancionar compositores e repertórios inteiros da sua preferência. Adeptos do mau romantismo, da ópera italiana, de compositores eslavos, intelectuais da música contemporânea, todos se sentem obrigados a sossegar-se relativamente a Bach. Uma triste marca da sua grandeza, impor-se a quem não pode ter a mais remota afinidade espiritual com ele ou com a sua Alemanha.
Bem, desde que deixemos a música eslava, e toda essa problemática alemã que tanto o apoquenta, de fora (não sei o que tem contra a Áustria, até consigo imaginar, mas isso não interessa), não me importo de deixar a minha opinião.
Também acho que há qualquer coisa que não bate certo no modo como muita gente lida com Bach.
O que mais me incomoda, e que é notório na A2, é a falta de respeito em relação à obra em si. Para encurtar, Bach NÃO escreveu para piano. Period.
Não consigo perceber o verdadeiro HORROR que existe em relação ao cravo, porventura o caso mais notório.
Como em relação aos Beatles (!), quem não compõe adapta. E lá vêm as guitarradas, habilidades pianísiticas, etc., incluindo samba, enfim, tudo menos o que J. S. Bach escreveu.
Quando se fala em ouvir Bach, o que realmente se refere costuma ser o virtuosismo pianístico de executantes brilhantes, mas que até podiam estar a tocar outra coisa qualquer, pois aquilo não é «Bach».
Para não me alongar muito, diria apenas que quase abro uma excepção, sobretudo devido à originalidade. Provavelmente foi quem abriu o caminho a tanta tralha que por aí abunda, mas na altura a questão ainda não se punha: Jacques Loussier.
