Forum Português de Música

Fórum onde se discute música clássica e cultura em geral.

 

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RTP e a gravação do Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal...

Pois é caros amigos, por muito que não queiramos é inevitável a não separação da música de Fernando Lopes Graça da sua vida de lutador pela democracia e pela liberdade. Talvez porque hoje tal como ontem a postura de boicote de alguns governantes se mantém exactamente igual, e a comprová-lo está a decisão da RTP de não gravar o concerto com a obra deste grande senhor da música contemporânea do nosso querido Portugal. Será que tem algo a ver com o facto de esta obra ter por titulo “Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal”, que na véspera do concerto a RTP tenha decidido cancelar a gravação que estava planeada há cerca de um ano?
E melhor ainda é a razão que foi transmitida por um alto funcionário da dita empresa ( que nós pagamos com os nosso impostos) para a não gravação, e a razão é…….. “…o responsável máximo não queria sequer ouvir falar de semelhante coisa! Vá-se lá sabegue pogue quê!!!
É triste mas é verdade……
Mas ainda há mais meus caros. O nosso Ministro de estado e dos assuntos do mar(???) Dr. Paulo Portas esteve presente na aula magna mas…..saiu depois da incompleta de Schubert, obra que abriu este concerto. Agora pergunto :Terá sido por isso que as luzes não se acenderam no intervalo, dando assim cobertura à fuga cobarde do nosso ministro Paulo Portas…..pela “porta” do cavalo.
De qualquer das formas o importante, é que pela terceira vez desde 1981 foi possível voltar a ouvir esta grande obra do mestre da música contemporânea portuguesa. De difícil audição para muitos mas sem duvida uma grande obra. Pena que não se faça mais vezes mas…..melhores dias virão.
Saudações musicais.

Re: RTP e a gravação do Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal...

Será que também na A2 a música de Lopes Graça ainda é incómoda?

O aniversário da morte de Lopes Graça foi no sábado passado e no programa da manhã de Judite Lima sei que foi feita uma referência ao evento e no programa Auditório às 12.00 foi transmitido o Concerto para piano nº 1 na versão de um pianista suiço e com uma orquestra alemã que é a única versão que existe desta obra. (Registe-se que como habitualmente o Boletim continua a não referir as obras que são transmitidas; ainda relativamente a este concerto espera-se que agora a Orquestra do Porto o grave como tem feito com compositores menos divulgados como Brahms ou Tchaikowski.)

Esperava que à tarde no “A Força das Coisas” se fizesse um programa sobre um dos poucos compositores portugueses de que nos podemos orgulhar, mas foi dada uma longuíssima entrevista com um responsável da BN.

Nada mais pude ouvir no sábado. Será que houve mais referências a Lopes Graça?

Agradeço que informem.

Não houve ninguém que se lembrasse de seleccionar alguma coisinha durante todo o dia?

Lembro que Lopes Graça tem 35 discos de vinil e pelo menos 16 CDs. com a sua música.

Re: Re: RTP e a gravação do Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal...

Este tipo de situações leva-me a pensar que se calhar os problemas com os restos mortais de Luísa Todi, que foram referidos àcerca de dois anos na evocação da A2, tem a ver com alguma das seguintes questões:

- Desrespeito da ordem, julgo que real, de D. Maria I que não queria mulheres nos palcos!

- Ser mais popular que a cantora "protegida" de Maria Antonieta!

- Ter sido "salvaguarda" durante as Invasões, pelos franceses, em resultado do ponto anterior.

Sei que, o que envio, talvez não venha propriamente a propósito.

Mas a mesquinhês com que ambos são tratados parece-me igual.

E no caso da Todi, já tem séculos ....

Re: Re: Re: RTP e a gravação do Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal...

Tanto quanto me é dado a conhecer, a RDP gravou o concerto de 6ª feira no Europarque, agora só nos resta saber se e quando o vão transmitir....pode segue que tenham autoguização do guesponguesavel maximo....pode segue...

Re: Re: Re: Re: Requiem pela imbecilidade

Porque será que a propósito de tudo ou nada tem de haver sempre um idiota qualquer a poluir este forum?
Será que lhe custaria muito esclarecer esta questão de uma forma civilizada?

Re: Re: Re: Re: Re: Requiem pela imbecilidade

Cara Senhora, já deve com toda a certeza ter ouvido dizer que o pior dos cegos é aquele que não quer ver.
Não me parece que esta questão seja uma imbecilidade como lhe chama mas é a sua opinião e eu respeito.Quanto ao facto de ser eu ser idiota não lhe admito tal,e ainda lhe digo que como pessoa civilizada e educada que sou não lhe vou responder à letra porque, presumo, que também seja suficientemente inteligente para saber qual a resposta que merece o seu comentario. Em relação à poluição deste forum.....lamento discordar mas desde que este mesmo forum que entendo que este serve para falar de questões importantes na área das artes, nomeadamente da música e de coisas a esta ligadas, inclusivé e por razões, essas sim idiotas, politicas ou outras que se lhe atravessem no caminho. Assim sendo e conhecendo bem de perto esta questão sobre a não gravação deste concerto sinto que tenho a obrigação e o dever de a dar a conhecer, e faço-o por amor à música e não por questões partidarias ou quaisquer outras à politica ligadas, no caso do seu comentario já não saberei dizer quais as razões que a levam a tal.

Re: Re: Re: Re: Re: Re: Requiem pela imbecilidade e insistência ...

Remeto-o, se é que não percebeu, para a sua intervenção a seguir às primeiras reticências. Se até ali tinha a razão toda do seu lado, a partir daquela idiotice (insisto no termo) a "pessoa civilizada e educada" (???) que diz ser cai imediatamente por terra.

Este forum serve (ou deveria servir) como afirma, e estou plenamente de acordo consigo, "para falar de coisas importantes na área das artes ...". Não deveria era servir para assistirmos a baixezas morais e ataques soezes, mesmo (como não foi o seu caso) por mais dissimulados que possam ser.

Re: Re: Re: Re: Re: Re: Re: Requiem pela imbecilidade e insistência ...

Cara Senhora, pensei muito se deveria ou não responder-lhe e cheguei à conclusão que não devo. Assim apenas pretendo dizer-lhe que não mudo uma virgula que seja do que anteriormente escrevi. Digo-lhe também que não pretendo voltar a responder-lhe caso volte a comentar as minhas palavras.E faço-o apenas por civismo e educação( também insisto nos termos ). Coloquei aquela primeira mensagem para chamar à atenção de situações ( essas sim de grande baixeza moral)porque me reservo o direito à indignação. Quanto aquilo a que chama baixezas morais e ataques soezes eu costumo chamar-lhes indignação, liberdade de expressão e direito à crítica e pode crer que convivo muito bem comigo vivendo desta forma. E estas são as ultimas palavras minhas que lerá no que respeita a esta questão, pelo menos para consigo!
Passe muito bem.

Re: Re: Re: Re: Re: Re: Re: Re: Requiem pela imbecilidade e insistência ...

Li isto no www.TheAmazingTroutBlog.blogspot.com , e subscrevo integralmente!



Quiz O que é a política?

Paulo Portas foi esta noite até à Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa. Assistiu à primeira parte do concerto, preenchida com a Sinfonia Incompleta de Franz Schubert e saíu no intervalo, ou seja, não ficou para assistir ao Requiem pelas Vítimas do Fascismo, de Fernando Lopes-Graça, a obra-título de todo este concerto e a sua primeira razão de ser. Para uma melhor integração no espírito deste pertinente quiz, importa relembrar que Lopes-Graça é um dos nomes maiores da música portuguesa do século XX, da erudita como da popular, e precisamente hoje passaram dez anos sobre a sua morte, aquilo que em muito país civilizado e nem por isso seria uma efeméride nacional. Em Portugal, o Ministro de Estado, dos Submarinos e dos Peixinhos, achou por bem sair ao intervalo. Fica a dúvida a remoer-nos: Porquê?

1._ É um melómano fanático pela música de Schubert e corre, qual groupie alucinada, a ver todos os concertos que pode em que um mero andamento de uma qualquer obra do compositor alemão seja sequer aflorado;
2._ Aconselhou-se com Santana Lopes sobre onde deveria bater palmas e este convenceu-o de que os requieins são obras puramente instrumentais;
3._ Foi enganado pelos seguranças, que lhe disseram que no fim do concerto não se abririam as portas nem se acenderia a luz de sala para dar tempo às altas figuras do Estado de saírem calmamante e em segurança antes do grato povão com a sua adoração, os seus beijos e os seus afagos;
4._ Fez questão de deixar bem clara a diferença entre um compositor e um comuna;
5.- É um daqueles snobs que acham que a banda que fez a primeira parte do concerto é sempre melhor do que as vedetas;
6._ Ouviu as palavras "Vítimas do Fascismo" [por esta ordem específica] e entrou em choque anafilático.

Aceitam-se mais explicações plausíveis e verosímeis para este acontecimento espantoso. Os prémios já conhecem, é a costumeira e procuradíssima estadia no Tarrafal. Se alguém acertar na verdadeira razão para esta piada de mau gosto... bom, o melhor é levar uma toalhita turca, porque a melhor sauna do empreendimento, carinhosamente apelidada de "o buraco", vai estar de portas [temporariamente] abertas à sua espera.

de música, sim, de ruído, não

Não será a óbvia e evidente razão , a saber, que Schubert é um génio e a sua música um prazer auditivo, enquanto Lopes Graça é um vulgar e académico tarefeiro sem chama que fabrica fretes políticos supinamente chatos em forma de música?

Re: de música, sim, de ruído, não

As opiniões são muitas. Conheço música, ensino música, amo música, e não concordo minimamente com o seu comentário à obra de Lopes Graça. Tem alguma autoridade para o dar a conhecer ao mundo, ou é apenas um dos muitos críticos mediocres e imbecis que nunca conseguiram fazer mais que os dois ou três primeiros anos da escola de música do bairro?

Re: Re: de música, sim, de ruído, não

Se há direito à indignação, também e por maioria de razão há direito à crítica. E como qualquer direito é universal. Não tem bairro "chique" e bairro "chunga". Não gostar de Lopes Graça é um direito que me assistia por pouca que fosse a minha formação musical, bom senso e bom ouvido é o mínimo que se pede.A sua atitude, pior que elitista, pior que blasée, é que é fascista. Quanto a argumentos "competentes", dou-os a quem os merece.Não é o caso.

Re: Oh D. Isabel, então e agora não ataca a imbecilidade?! (nt)

Re: Re: Acha que serve para alguma coisa?

E será mesmo necessário? É que a elevação demonstrada fala por si. Tentar limpar o forum é um caso perdido, sem qualquer réstia de esperança.

Re: Re: Re: Acha que serve para alguma coisa?

Na verdade acho que entre a senhora e o "music lover" houve apenas um mal entendido. Não me parece que da parte de music lover tenha havido qualquer imbecilidade. Acha mesmo que houve? Veja bem por favor.

Re: RTP e a gravação do Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal...

Concedo, reconheço-lhe o direito à opinião. Gostaria nesse caso que a exprimisse não por adjectivos, não por insinuações e calúnias, mas que tornasse os seus argumentos objectivos, não só quanto à mediocridade do Lopes Graça como à genialidade do Schubert. Lanço-lhe o desafio, mas confesso que tenho praticamente a certeza que não será capaz de melhor que novas atoardas e insultos. Aguardo resposta construtiva.

Re: Re: RTP e a gravação do Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal...

Reconhecer o direito à opinião de alguém não invalida que se considere a dita opinião uma besteira repugnante. Quem classifica como fretes políticos as obras de um criador que foi levado a escrevê-las pela comoção causada pelo assassínio e tortura de homens por parte de um regime animalesco e alarve está a auto-classificar-se. Aqui não se trata de música ... trata-se de alcançar os mínimos
da decência humana.

Re: RTP e a gravação do Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal...

O que começo a achar de alguns dos forenses é que têm a cabecinha cheia de teias de aranha, têm vómito fácil, ficam ofendidos com infantil facilidade, e, na verdade, duvido que gostem seriamente de música. Parece-me mais um grupinho enfadonho, com dogmas cristalizados, com gostos pouco expectantes. Já sabem à priori do que vão gostar, do que vão odiar, etc. Vida chata, essa!

Re: Re: RTP e a gravação do Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal...

tem razão. Acho que é verdade o que diz. Também há praí muitos tipos que odeiam Lopes Graça porque ele era anti-fascista. Esses são fascistas com certeza.Coitados. Mas que havemos de fazer?! Matá-los? Não. Deixá-los.

Re: RTP e a gravação do Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal...

Vamos lá, meus amigos. Não se tratam de questões de vida ou de morte. Devo dizer, no entanto, que o desprezo que sinto por quem fala de música, quem ajuiza, quem critica compositores e interpretes, sem ter consciência do que está a dizer, sem ter capacidade de justificar e argumentar sem recurso a metáforas bacocas, é enorme! Tal como desprezo, sem no entanto me dar algum gozo provocar nestas lides, esse conjunto de velhos e velhas de naftalina que ressona na Gulbenkian mas olha com desdém tudo e todos.

Re: RTP e a gravação do Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal...

Ah! E afinal enganei-me quanto ao anti-lopista-gracista. Nem sequer de um insultozinho foi capaz, quanto mais de uma só opinião minimamente fundada e inteligente acerca de música.

Re: Re: RTP e a gravação do Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal...

Pois eu, que vivi naquela época tenebrosa, que sofri e vi sofrer injustiças revoltantes e - o que mais me revolta ainda - o silêncio abafando os crimes inspiradores deste “Requiem”, não tinha conseguido sentir nada por tal obra, ouvindo-a apenas em gravação.
Fui ao concerto para prestar homenagem a todos aqueles que sofreram muito mais do que eu, aos que perderam a vida porque, pensando de modo diferente do instituído, se recusarem a delatar e a deixar matar – como o nosso diplomata Aristídes de Sousa Mendes, - e a outros, menos ilustres que, abatidos a tiro, em público, sem terem cometido qualquer crime, deixaram crianças órfãs, a sofrer. Não vale a pena nomear estes últimos: dois deles ficaram imortalizados em canções de José Afonso e em poemas de Sophia.
Fui ao concerto com a ideia de assistir a um espectáculo muito pesado e depressivo, que nada mais poderia transmitir do que a renovação da dor que o inspirou. Enganei-me, porém: saí de lá com o entusiasmo de quem sente a alma renovada para todas as lutas contra a hipocrisia e a prepotência estúpida.
Cada uma das pessoas do coro lembrava-me uma alma torturada, não cessando de bradar por justiça, ao som do clamor das trombetas do juízo final, que os sopros pareciam querer representar. E verifiquei que esta missa de defuntos - composta por quem nunca se confessou crente – realça, com uma insistência bem apropriada, todas as partes presentes nas dos compositores mais conhecidos: até a dramática prece “Lacrimosa”, que Verdi nos deixou, numa ária tocante, e Mozart, num brado assustador.
È que Lopes Graça, - cujo valor global, como músico, não me compete avaliar, - era uma pessoa bem culta. Licenciado em Letras, deixou traduções, ensaios e outras obras primorosamente escritas e, no estudo que elaborou para a gravação, em vinil, do “Requiem” de João Domingos Bomtempo, vê-se bem que conhecia perfeitamente este género musical; Viana da Mota, com idade para ser avô dele, dirigia-se-lhe com grande respeito.
A sua cultura musical, e também a sua experiência de viver, preso e humilhado - tendo de ouvir os “pides” analfabetos chamarem-lhe mau músico (entre outros insultos) - levou-o a expressar plenamente o seu génio, nesta obra impressionante que preenche todas as condições para ser exibida até num templo católico ... de um país civilizado.

Ana Maria

RTP e a gravação do Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal...

Antes de mais desejo expressar os meus sinceros cumprimentos à Sr.ª D.ª Ana Maria pelas suas sábias e sofridas palavras. De seguida dizer também que coloquei a
mensagem que deu origem a todo este movimento de ideias ( por vezes muito erradas ) apenas para chamar à atenção das pessoas sobre a forma indigna com que estava a ser tratada esta obra na tentativa de a esconder dos portugueses, utilizando-a como se de uma estratégia politica se tratasse e dessa forma colocando-a ao baixo nível da politica e não ao alto nível da arte musical, onde sempre pertenceu.
E não foi apenas o problema da recusa da gravação. Foi também a pressão exercida sobre os patrocinadores, nomeadamente sobre a CML, pretendendo assim a desistência destes de facultar o apoio inicialmente oferecido à organização deste evento. Houve também quem tivesse andado a arrancar os cartazes que anunciavam o evento ou até a escrever nos mesmos palavras como : “ Morte aos comunas! “ entre outras. E foi achando que cabe a todos aqueles que ligados, ou não, ao meio musical lutar contra este tipo de “partidarização” das artes no nosso país que entendi que deveria revelar aquilo que conhecia em relação a este assunto. Por ultimo mas não de menor importância , gostaria de saudar o Coro Universidade de Lisboa, por se ter praticamente “empenhado” em termos financeiros de forma a que este concerto pudesse ter lugar pela 3ª vez no nosso país.
Foi apenas por estas razões e não por quaisquer outras que possam ter sido entendidas por pessoas menos “artísticas” do que aquilo que querem parecer!

Re: RTP e a gravação do Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal...

Meu caro Music Lover.
Grata pelos cumprimentos, quero dizer-lhe que também compreendi e apreciei as suas mensagens – e até achei apropriada aquela brincadeira com a dicção do pobre diabo que, no papel de lacaio, só deslustra o nome dos seus antepassados, militares e políticos ilustres do século 19. Infelizmente, a pronúncia ainda é, nele, o menor dos males!

È realmente bem triste que o fundamentalismo continue a grassar, neste país, agora já não aberta mas disfarçadamente imposto (ou tolerado, quiçá incitado, no caso dos cartazes), pelos poderes públicos, com desculpas esfarrapadas para pôr entraves a quem tem o direito de se juntar pacificamente, recordando, para mais, num espectáculo musical raro, e mostrando porque não se pode parar de exclamar: “fascismo nunca mais!” - mesmo sabendo que a História se repete.

Também concordo que o coro soube bem sentir o que estava a cantar: por isso destaquei a magnífica interpretação que nos deu, tal como a da orquestra, com o clamor da percussão e dos sopros. É que, mesmo não sendo uma obra muito melodiosa – como aquelas a que nos habituaram outros grandes compositores, - é esta talvez a mais autêntica das missas de “requiem” ou descanso eterno que só sugere após a representação musical do longo martírio por que as almas já passaram, para o merecerem.
Mas não há dúvida de que se trata de uma obra que só pode compreender-se vivida, não gravada. Talvez por isso eu, que cresci a ouvir a outra música de Fernando Lopes Graça (pois a rádio oficial antiga tinha mais coragem para o lembrar do que a actual A2), apenas gosto muitíssimo das “Canções Heróicas” – que só nos foi dado ouvir e ver interpretar, em 1974, pelo autor, ao piano, atacando os primeiros acordes, com toda a energia dos seus grossos dedos.
Eram as chamadas “canções comunistas”, e ai de quem as possuía! – os poemas, é claro, pois os “pides” sabiam lá ler música! E a estupidez era tanta que os autores desses poemas não passaram, - pelo menos, por causa deles, - pelo que passou, como autor das suas partituras, o comunista Fernando Lopes Graça. Assim se vê a força ... da música, para aterrorizar reaccionários.
Ana Maria

Re: RTP e a gravação do Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal...

Caro amigo A-L-G, a razão pela qual ainda não argumentou contra a genialidade da música do Lopes-Graça, tenho eu a certeza que se deve apenas em andar atarefado em colocar no papelão (pois julgo-o um amigo da natureza) os cartazes que arrancou,(principalmente aqueles da Cidade Universitária), e não pelo simples facto de, podendo não gostar da música do Graça (gostos não se discutem;lamentam-se...) não ter conhecimentos musicais que lhe permitam sequer analizar a música do Ruy Coelho (( e aqui estarei a sobrestimá-lo)desse deve gostar ) ou de um Emanuel (o pimba; que não o Nunes).

Cumprimentos ambientais.

Re: RTP e a gravação do Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal...

Cara Isabel,
qualquer figura pública pode naturalmente ser alvo de crítica pelas acções que faz ou que deixa de fazer, devido à maior ou menor visibilidade que tem, desde que essas críticas sejam fundamentadas e não insultem.

Creio que o post de 'music lover' (que não conheço) se enquadram nestes parâmetros que acima referi; o mesmo já não poderei dizer do seu comentário pelos adjectivos que utiliza (ex: idiota (ou será que quis elogiar? - aquele que tem ideias?)) e pela sua pretensão a Ministra do Ambiente aqui do Forum....

Desculpe a ironia deliberada.

Cumprimentos sinceros

Re: Re: RTP e a gravação do Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal...

O post de Herlander (e não só) tresanda a Music lover desdobrado em mil personagens.
Glosar defeitos físicos de outrem, mesmo com opiniões (políticas ou de outro cariz) radicalmente diferentes das nossas, creio não dever ser propriamente considerada como uma atitude de "elevada nobreza". E tenho a certeza (quase) absoluta que isso também os respectivos progenitores lhes ensinaram!

Re: RTP e a gravação do Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal...

Caro ML,

gostei muito dos seus textos, apenas corrigi-lo no seguinte; apesar da excelente colaboração do Coro da Universidade de Lisboa, quem se empenhou totalmente a nível financeiro pela falta de apoios para realizar esta obra foi o Coro de Câmara da Universidade de Lisboa.

Cumprimentos lopes-gracistas

Re: RTP e a gravação do Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal...

Cara Isabel,

não queira ser a detentora da verdade; esta é (asseguro-lhe) que eu o o ML somos pessoas diferentes. Lá por ambos termos a mesma opinião e ainda por cima contrária à sua, não creio que isso seja motivo suficiente para tirar a conclusão que tirou.

Quanto aos defeitos do dito senhor, aponto-lhe (a ele)um a que tresanda - a prepotência. Muitos mais lhe encontro, mas este chega para que tenha uma opinião negativa da pessoa em causa.

Cumprimentos pospotentes.

Re: Re: RTP e a gravação do Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal...

Nalguns homens, aquela diccção peculiar é realmente um leve defeito físico, e não conseguem corrigi-la; mas asseguro-lhes que conheci muitos - intelectuais falhados e até músicos apavorados por terem chegado à decadencia - que, nunca tendo falado assim, a passaram a adoptar, por julgarem que ela os torna mais notados pelo comum dos mortais.
Neste ministro, a peculiaridade è tão leve que me parece possível de corrigir, com força de vontade. Não se compara à daquela pobre senhora que, numa festa, dizia para um jovem militar: "Senhogue caguete, sente-se nesta cagueiga".

Re: Re: Re: RTP e a gravação do Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal...

Bem, não costumo meter-me nestas coisas, mas tem sido dita aqui tanta coisa que me pareceu, sem querer ser o Messias da verdade, dizer algumas coisas sobre o assunto.

1. Fui aluno e amigo de Lopes-Graça durante anos, como alguns devem saber. Orgulho-me disso como de poucas mais coisas na minha vida. Raras vezes convivi com pessoa tão amável e culta. Nunca, pese embora a pouca idade com que o conheci (16 anos meus, e até à sua morte, 10 anos depois), me tentou converter fosse a que política fosse, nem sequer se falava disso. Lá em casa comia-se bem, falava-se de arte e de outras coisas, mas de política praticamente zero. A cada um as suas opiniões. Nem nunca me lembro de alguém, algum aluno ou colega, se tornar comunista ou outra coisa qualquer por causa do Graça directamente. Como devem saber, o excelente dicionário Tomás Borba/Lopes-Graça foi escrito em colaboração com...um padre, dos vários que Lopes-Graça tinha como amigos, tal como tinha por amigos muitas outras pessoas que não partilhavam do seu credo político e até estético.

2. Um Requiem é uma missa dos mortos, normalmente cantada em latim, embora existam vários formatos (o de Britten, que tem inclusos outros textos em inglês). O Requiem de Lopes-Graça é cantado em Latim e o texto segue o texto litúrgico sem alterações. A música é uma linguagem abstracta de sons e silêncios, baseada em relações de alturas, registos, dinâmicas, tempos e outros elementos. Alguém me pode pois explicar porque é que o Requiem de Lopes-Graça é comunista ou outra coisa qualquer a não ser um Requiem?

3. Talvez o subtítulo possa afastar algumas pessoas. Mas então, não existiu Fascismo em Portugal e dele não resultaram vítimas? Estarão todos os historiadores, portugueses e estrangeiros, enganados? Até o próprio regime de Salazar estaria enganado com a própria designação, símbolos, políticas e outros elementos que tomaram dos italianos e depois dos alemães e espanhóis? E as vítimas do fascismo foram só comunistas? Não consta, a história diz-nos que muitos sofreram às mãos da polícia política apenas por terem opiniões contrárias (e as fazerem ouvir) às do regime.

4. Não gostar do Requiem do Graça por este ter sido comunista é como não gostar das traduções do Vasco Graça Moura por este ser de direita. Ambas as opiniões são fundamentadas em coisas que nada têm que ver com a arte, pelo menos com este tipo de arte. Que se não goste de um poema de Neruda directamente conectado com uma partidarização ou de uma canção heróica do Graça pela mesma razão, até compreendo, embora o valor intrínseco possa ser grande (olhai os poemas de Brecht...). Agora, dizer tal coisa do Requiem é, desculpem os que se sentirem atingidos, um completo non-sense.

5. Congratulo-me de viver num país onde, hoje, se pode comprar, lado a lado, o Mein Kampf, a Bíblia, o Livro Vermelho de Mao ou seja o que for. Estou no meu direito de comprar e analisar, eventualmente gostar ou odiar. Não tenho é o direito de arrancar cartazes, fazer pressões ou exercer meios violentos para impedir os outros de irem fazer o que gostam.Também não aprecio que todos os anos alguns saudosistas do antigo regime (não confundir com o verdadeiro regime setecentista!) fazça, rezar uma missa pela alma de Salazar. Porém, estão dentro da legalidade, e num regime democrático estão no seu direito, tal como eu tenho o direito de ver cartazes limpos a anunciarem o Requiem do Graça pela cidade. Quem não gosta, que não vá.

6. A atitude, se verdadeira, de Paulo Portas, em relação ao concerto do Graça, é claramente uma provocação política. Porém, nestas coisas acontece sempre o mesmo. Quando um medíocre tenta achincalhar um grande homem, um grande personagem que já está na História portuguesa, que se queira quer não, quem é que é achincalhado? o medíocre, está claro. Paulo Portas só nos provou, se realmente a história é verdadeira, aquilo que é. Nem preciso de o dizer, pois não? há por aqui senhoras...


Abraços,

Sérgio Azevedo